E.E "Pedro de Mello" Filosofia - Professor Ednilson

domingo, 3 de junho de 2012

matéria do primeiro ano- Filosofia e ciência

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1- INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CIÊNCIA
Dedução e indução
bloco 1: Todos os homens vivos respiram.               bloco 2: Meu irmão respira.
Meu irmão é um homem vivo.                                   Meu irmão é um homem vivo.
Portanto, meu irmão respira.                                    Portanto, todos os homens vivos respiram

Nas três primeiras frases, organizadas no bloco 1, temos um clássico exemplo de dedução válida, enquanto nas últimas frases do bloco 2, vemos outro de dedução inválida. Qual a diferença? Para a lógica, a primeira situação é válida, não há nenhum problema, pois a conclusão depende das inferências e nada mais. Ela é analítica, depende apenas do que foi
dito. Parte do universal para o particular. No segundo caso, o argumento não está completo: pois as duas afirmações (meu irmão respira e meu irmão é ser vivo) não permitem afirmar de forma generalizada que todos os homens respiram. O argumento é inválido, porque a conclusão toma por verdade apenas uma possibilidade: por mais verdadeiras que sejam as inferências, a conclusão pode não ser verdadeira. Para muitos filósofos, na ciência, a dedução toma o seguinte sentido: temos um conhecimento teórico e por ele agimos, ou por ele conhecemos outras dimensões do mundo. Por exemplo, a lei da gravitação universal de Isaac Newton diz que todos os corpos se atraem segundo uma força derivada de suas massas e sua distância. Desse modo, quando um objeto qualquer cai, na verdade, ele foi atraído pelo planeta. É a massa do objeto sendo atraída pela massa do planeta. Portanto, ao soltar uma bolsa, ela será atraída pela força gravitacional do planeta Terra. Por dedução, podemos dizer que os objetos, como a bolsa, são atraídos pelo planeta; por isso, de alguma forma, acreditamos que tudo cai, porque sabemos que há uma lei da gravidade e, com base nela, podemos prever um acontecimento. Além disso, ela é logicamente válida. A seguir, vamos refletir sobre a possibilidade de chegar a teorias e leis que valem tanto para a realidade quanto para a lógica, compreendendo melhor o que é indução e dedução.
Por uma visão crítica da Ciência

# Com base na observação de um grande número
de experiências, por meio dos cinco
sentidos, cria-se uma lei ou uma teoria.
#Ao se repetirem as condições enunciadas
nessa lei, pode-se prever um acontecimento.
# Isso garantiria a objetividade do conhecimento
científico, isto é, ele não dependeria
da opinião das pessoas, mas poderia ser
comprovado por todos os seres humanos.
# Com a indução, parte-se do particular para
o universal; esse conceito utiliza a generalização
para criar leis e teorias científicas.
# Com as leis e as teorias científicas, é possível,
por meio da dedução, prever e explicar
acontecimentos.




Sabemos que a ciência é, sem dúvida, uma atividade racional e, por isso, se vale das regras da lógica para fundamentar seus conhecimentos. No entanto, a indução não parte das regras lógicas para se legitimar. Ela parte da experiência. A experiência pode parecer racional, mas não é, pois está envolvida com os sentidos, e não com o raciocínio.
O que aconteceria se a lei ou a teoria falhassem? Nada na natureza tem o dever de seguir nossas leis científicas. Por isso, se um dia o Sol se puser e, no outro, não amanhecer, o que impediria a ocorrência? Ora, as leis da natureza são as interpretações que fazemos dela. Cada princípio científico pode ser contrariado pela natureza porque não é fundamentado pela razão, mas pela experiência. Nós prevemos, como se fosse um hábito psicológico. O que garante que ao soltar um lápis ele vai cair? A lógica não pode garantir isso; afinal, ela trata de palavras e conhecimentos, e nunca da realidade. A experiência é sempre única, e a queda de um lápis não tem relação com a queda de outro. Em resumo, nada garante que o lápis vá cair. Por isso, quando pensamos que a ciência é uma garantia da verdade, estamos tendo uma visão não crítica da ciência.
Há, ainda, dois outros problemas que precisamos discutir a respeito da indução, como
fundamento da ciência, a saber: a observação como fonte objetiva e a relação teoria-experiência.
Afirma-se, constantemente, que da observação das experiências tiramos os conhecimentos. Mas será que cada um de nós observa da mesma maneira? Será que nossa visão, audição, paladar, tato e olfato são iguais aos dos outros seres humanos? Não são, pois as pessoas podem observar uma mesma situação de formas diferentes. Enfim, a observação tem problemas por si só em relação à objetividade da ciência, havendo também problema com a crença de que dela derivam todas as teorias. Quando o cientista faz uma experiência, seria muito difícil acreditar que ele faça suas descobertas partindo do nada. Ele tem muitas teorias anteriores à experiência, e algumas vezes é com base nelas que ele produz a própria experiência a ser observada. Isso aparece principalmente quando, durante a observação, o cientista usa o vocabulário de uma teoria para expressar sua percepção. Por exemplo, para explicar a experiência de um livro que foi solto no solo, em sua observação, um físico poderia dizer que a força gravitacional da massa do planeta Terra é que atraiu para ele, segundo sua distância, a massa do livro. Onde está a palavra força no ato de soltar um livro? E atração? Todas essas palavras estão na mente do cientista antes da experiência.


O falsificacionismo: Karl Popper e Thomas Kuhn.
Para os falsificacionistas – entre os quais Karl Popper é um dos mais importantes –, o valor de um conhecimento científico não vem da observação de experiências, mas da possibilidade de a teoria ser contrariada, ou melhor, falseada. Em um primeiro momento, acreditava-se que a ciência comportaria todas as verdades, com base na criação de teorias e leis que surgiriam pela observação de experiências – esta é a crença de indutivistas. Com a ideia de que a teoria precede a experiência, os falsificacionistas admitem que toda explicação científica é hipotética; no entanto, é o melhor que temos. Quanto mais uma teoria pode ser falseada, melhor seria ela. No momento em que uma teoria é falseada, o cientista tentará melhorá-la ou a abandonará. Mas enquanto ela não é falseada, permanece o seu valor explicativo. O fundamental é que tenhamos em mente o seu limite. As teorias têm de dizer algo bem objetivo sobre o mundo, para sermos capazes de conceber sua falsificabilidade.
Critérios para uma boa teoria
* Tem de ser clara e precisa, não podendo ser obscura ou deixar margem para várias interpretações. Quanto mais específica, melhor.
* Deve permitir a falsificabilidade; quanto mais, melhor.
* Deve ser ousada, para conseguir progredir em busca de um conhecimento mais aprofundado sobre a realidade.
Teorias que não podem ser falseadas não são boas teorias. Por exemplo, se disser que “o ladrão rouba”, não se estará dizendo muita coisa sobre o mundo. Apesar de parecer clara, essa afirmação não pode ser falseada; afinal, está contida na palavra ladrão a ideia de que ela qualifica os seres que roubam. Ninguém precisa dizer “o ladrão rouba” para sabermos que ele rouba.
O progresso da Ciência
Para os falsificacionistas, a Ciência progride pela tentativa de superação das teorias. Com base nas considerações de Alan Chalmers, no livro O que é Ciência afinal?, podemos pensar o progresso da Física segundo os falsificacionistas.
O não científico na Ciência
trabalhamos primeiramente com os falsificacionistas, em especial Karl Popper; agora, vamos discutir a reflexão de Thomas Kuhn a respeito da Ciência. Em primeiro lugar, é importante salientar que a ciência é uma atividade racional e humana. Essa atividade, como muitas outras, é influenciada por problemas humanos de natureza variada, como emocionais, políticos, linguísticos, sociais e religiosos. Kuhn percebeu que essas influências são inerentes à racionalidade humana e se propôs a pensar a ciência com base nelas e de acordo com a seguinte linha de desenvolvimento: pré-ciência, ciência normal, crise, revolução científica e nova ciência normal. O conceito mais importante é o de paradigma, que é o modelo da ciência normal. Durante um tempo, todos os cientistas procuram orientar suas pesquisas com base em um modelo, de maneira a preservar a verdade científica. O que não se encaixar nesse modelo será excluído; será considerado anomalia, mas isso também pode indicar que o cientista não aplicou corretamente o modelo e sua metodologia. Para Kuhn, o determinante das normas da ciência é o paradigma aceito pelos cientistas. Mas, por motivos nem sempre racionais, os cientistas mudam de paradigma, após uma crise da ciência normal, o que, em geral, é fundamentado na anomalia, isto é, quando a ciência normal não consegue responder a alguns problemas, como a órbita de Mercúrio para a física newtoniana. Essa crise se estende até uma revolução científica, quando a maneira de fazer ciência muda completamente. Quando ocorre essa mudança, segundo Kuhn, chega-se a uma nova ciência normal, a partir desse momento praticada de acordo com um novo paradigma. Precisamos considerar que a racionalidade científica encontra problemas dentro e fora de seu espaço de ação. Dentro de seu espaço de ação são as anomalias e fora desse espaço são as necessidades humanas da pesquisa científica. As instituições, empresas e governos procuram fazer com que a ciência seja feita em função de seus interesses, não apenas por mera curiosidade.

Características do senso comum
Um breve exame de nossos saberes cotidianos e do senso comum de nossa sociedade revela que possuem algumas características que lhes são próprias:
- são subjetivos, isto é, exprimem sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro, dependendo das condições em que vivemos;
- são qualitativos, isto é, as coisas são julgadas por nós como grandes ou pequenas, doces ou azedas, etc.;
- são heterogêneos, isto é, referem-se a fatos que julgamos diferentes, porque os percebemos como diversos entre si.
- são individualizadores por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada coisa ou cada fato nos aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo;
- mas também são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou numa só idéia coisas e fatos julgados semelhantes;
- em decorrência das generalizações, tendem a estabelecer relações de causa e efeito entre as coisas ou entre os fatos:
- não se surpreendem e nem se admiram com a regularidade, constância, repetição e diferença das coisas, mas, ao contrário, a admiração e o espanto se dirigem para o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso. Justamente por isso, em nossa sociedade, a propaganda e a moda estão sempre inventando o  extraordinário”, o “nunca visto”;
- pelo mesmo motivo e não por compreenderem o que seja investigação científica, tendem a identificá-la com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensível.
- costumam projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo diante do desconhecido.
- por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de medo e angústia, e de incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos.
A atitude científica
Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. Sob quase todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento científico opõe se ponto por ponto às características do senso comum:
*é objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas;
* é quantitativo, isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação e avaliação para coisas que parecem ser diferentes.
* é homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que nos parecem diferentes.
* é generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura
* são diferenciadores, pois não reúnem nem generalizam por semelhanças aparentes, mas distinguem os que parecem iguais, desde que obedeçam a estruturas diferentes.
* só estabelecem relações causais depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes.
* surpreende-se com a regularidade, a constância, a freqüência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o maravilhoso, o extraordinário ou o “milagroso” é um caso particular do que é regular, normal, freqüente.
* distingue-se da magia. A atitude científica, ao contrário, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento do mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e relações racionais que podem ser conhecidas e que tais conhecimentos podem ser transmitidos a todos;
* afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, deixando de projetá-los no mundo e nos outros;
*procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das teorias em doutrinas, e destas em preconceitos sociais.



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